sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A incrível história do novo Nobel da Paz



Liu Xiaobo foi distinguido hoje com o Nobel da Paz. Emily Lau, vice-presidente do Partido Democrático de Hong Kong, já veio dizer que está “muito satisfeita”, nomeadamente porque o chinês “tem feito muito pela paz, pelos direitos humanos, e também tem sofrido muito por isso”. O ministro das Relações Exteriores da República Popular da China também se apressou a divulgar um comunicado, em que cataloga a distinção como uma “obscenidade”. Até Liu Xia, a mulher do laureado, já falou: agradeceu ao Comité Nobel, ao escritor, último presidente da Checoslováquia e primeiro da República Checa, Vaclav Havel, e ao Dalai Lama. Por todo o mundo, sucedem-se as reacções a esta distinção pela “luta longa e não violenta pelos direitos fundamentais da China”, assim justificou o Comité Nobel Norueguês a escolha de Xiaobo.

Só o Liu Xiaobo, 54 anos, pai de dois filhos, doutorado em literatura chinesa, outrora crítico literário e banido da universidade de Pequim onde dava aulas e de todo o ensino oficial por se ter envolvido nas manifestações estudantis de 1989, é que ainda não se manifestou. Preso há dois anos, algures numa casa na província de Liaoning, no nordeste do país, e condenado a uma pena de 11 anos, Liu Xiaobo nem sequer sabe ainda que lhe foi atribuído o Nobel. Ouvi-lo-á pela boca da própria mulher, também ela sujeita a forte vigilância policial, nos próximos dias. À imprensa internacional, Liu Xia revelou que lhe concederam autorização para o visitar e dar-lhe a notícia. Será a segunda vez que se encontram desde a detenção.

Nascido em Changchun, província de Jilin, a 28 de Dezembro de 1955, Xiaobo é descrito como “o mais proeminente dissidente chinês”. Porque sempre se insurgiu contra os atropelos do governo chinês às liberdades individuais. E porque nunca temeu as consequências dessa luta. É a terceira vez que paga no cárcere pela ousadia. Desta feita porque foi um dos autores do manifesto “Charter 08”, assinado por outros 303 intelectuais e artistas chineses na tentativa de apelar à liberdade de expressão, à independência do poder judicial e à realização de eleições multi-partidárias na China. Uma iniciativa que tentou evocar o “Charter 77”, lançado por Vaclav Havel nesse ano em nome dos direitos humanos na então Checoslováquia, e que contribuiu para o fim da era comunista no país (se bem que apenas onze anos mais tarde). Mas que em território chinês, mesmo com mais de 20 mil assinaturas recolhidas até ao momento, foi considerada um desafio directo e culminou com a condenação do activista por tentativa de “subverter o governo”.

Ex-professor visitante da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, Xiaobo regressou a Pequim em 1989, mesmo a tempo de encabeçar o movimento estudantil pró-democracia na Praça Tiananmen. Se naquela madrugada sangrenta de 4 de Junho não se registaram mais mortes, a muito se devem as conversações mantidas por ele e outros três activistas, que conseguiram negociar uma saída pacífica da praça. Em troca, Liu Xiaobo recebeu a sua primeira condenação: esteve preso durante um ano e meio, até ao início de 1991. Sem nunca ter sido acusado.

Em 1996, o intelectual, admirador de Dostoievski e Kafka, foi detido novamente. Dessa vez, num “campo de reeducação através do trabalho” – onde permaneceu até 1999 e casou com Liu Xia, poetisa, cinco anos mais nova, amiga de longa data e sua segunda mulher.
Impedido de dar aulas, depois da libertação refugiou-se no Centro Independente Chinês PEN, uma espécie de agrupamento de escritores onde nasceu o “Charter 08” e de onde foi arrancado à força aquando desta última condenação.

O passo seguinte? Para a comunidade internacional continua a ser a libertação do activista. Não vai ser fácil, o governo chinês mantém-se irredutível. Sempre que se toca no assunto, a China grita que se trata de uma “ingerência grosseira” nos seus “assuntos internos”. Aliás, mal se apercebeu de que o Nobel da Paz poderia ser atribuído a Liu Xiaobo, o governo chinês advertiu o Comité de que, a concretizar-se esse cenário, as relações entre a China e a Noruega sofreriam “fracturas inevitáveis”.

Esta pesquisa devo-a à Wikipedia, de onde tirei a maior parte da informação.

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